sábado, 4 de setembro de 2010

O viajante do tempo

Joselito Neves era um filhote da balada dos anos 90. Freqüentou as primeiras raves, fez maratonas de dias com dois pés na jaca, foi comprador de disco pela internet de primeira hora, conheceu a reve, de Curitiba, o fim de século, em Porto Alegre, a bunker, no Rio, e pegou o comecinho do Lov.e em São Paulo. Sim o comecinho em dezembro de 99, precisando de dinheiro, Joselito aceitou a ser cobaia numa experiência cientifica. Joselito foi então congelado. A idéia era que fosse só por 1 mês. Mas algo deu errado e o congelamento acabou durando 10 anos.

Joselito surtou quando descobriu que nada menos que 10 anos havia se passado desde que ele se apagou. Parecia, é verdade, mais chateado porque havia perdido o gig de Sasha no Love em fins de 99, do que pelos 10 anos passados. Afinal, não era todo dia que um gigante da musica eletrônica dava as caras pelo Brasil. Procurou amigos e foi logo perguntando da gig de Sasha. “qual delas? A ultima no Warung? ’’ foi a resposta que ouviu. Foi ai que Joselito aprendeu que Dj estrangeiros no Brasil tinha virado arroz de festa nos últimos 10 anos. Laurent Garnier, Carl Cox, Sasha, John Digweed, Dubfire, Rchie Hawtin e Sven Vath recebem carimbo brasileiro no passaporte entra ano, sai ano.Fatboy Slim tinha tocado ate com Daniela Mercury. Quando se falava então em gringos das segunda e terceira divisões, a coisa tinha virado banal

Seu espanto prosseguiu ao ouvir falar em turnês de brasileiros no exterior. Marky,Renato Cohen e Anderson Noise havia construído carreira solida no exterior. E aquele cara que fazia poperô no projeto Sect, um tal Gui Boratto, tinha virado produtor nacional mais requisitado da década, lançando em festivais e remixando Goldfrapp e Pet Shop Boys. Joselito ficou perplexo.

Depois veio a noticia de que o vinil havia sido abandonado por 95% dos Dj do planeta ‘’ O CD tomou conta mesmo então” , balançou a cabeça. Nada disso, lhe contaram, esse também estava com os dias contados. O lance agora era tocar com software em laptops. Daí lhe mostraram um pendrive, explicando que ali cabiam horas de discotecagem. Joselito começo a se sentir em um filme de ficção cientifica. Quando lhe falaram na popularidade de Myspace, Facebook, Orkut, Twitter, Last.fm, também foi um pouco complicado. Não, Joselito, não era grupos de Djs, artistas ou gênero musicais, eram ‘’redes sociais” .

Joselito constatou grande satisfação, por outro lado, que a musica eletrônica no Brasil havia virado gênero de respeito, comercialmente viavel, parte consolidadda da cultura pop local. Contaram a ele sobre a Skol Beats, Greamfields, jingle de propaganda da TV. A explosão do psy, Djs no Fantastico. Aprendeu sobre minimal, maximal, electro-house, dubstep, nu disco.

Ao mesmo tempo, Joselito descobriu que havia perdido o melhor da festa sim em 2009, o Skol Beats havia sido trocado pelo Skol Sensation, Djs remixavam pagode no Faustão e famosos se fotogravam com fone de ouvido ‘’atacando” de Dj. O mais incrível: Madonna estava sasindo com um modelo brasileiro, que era Dj de sucesso mesmo sem saber nada de discotecagem.

É, o dia não tinha sido fácil para Joselito. Ele precisava de um drinque... tomou outro surpresa ao descobrir que Red Bull agora se achava em qualquer birosca, custando entre R$ 6 e R$ 7. O drinque veio em boa hora, sua cabeça a milhão tentando assimilhar tanta informação e mudança. Resolvendo encarar sua primeira dose de televisão, eis que, na tela surge uma imagem de Nova York, cidade que Joselito conheceu bem em 98, quando passou três meses lá.

De repente Joselito dá um grito de pavor derrubando seu copo: ’’PORRA CADÊ as TORRES? Cadê as Torres gêmeas?“

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